Atividade Física 222: A panturrilha como o “segundo coração” do corpo

Quando pensamos em circulação sanguínea, o coração é naturalmente a primeira referência. No entanto, as panturrilhas desempenham um papel fundamental como auxiliares desse processo, de forma tão eficaz que são frequentemente chamadas de “segundo coração”. A cada contração dos músculos da panturrilha, o calf muscle pump (CMP) pode ejetar entre 40 % e 60 % do volume venoso contido na perna rumo às veias poplíteas e femorais LippincottFrontiers.

Esse mecanismo de bombeamento ocorre em duas fases:

Contração (fluxo centrípeto): o músculo gastrocnêmio e o sóleo comprimem as veias profundas, impulsionando o sangue para cima.
Relaxamento (fluxo centrífugo fisiológico): mesmo durante o relaxamento há gradiente de pressão que mantém o fluxo em direção ao tronco, prevenindo estase sanguínea ScienceDirect.

Numerosos estudos mostram que exercícios específicos para o fortalecimento da panturrilha otimizam esse “segundo coração”:

Systematic Review em Insuficiência Venosa Crônica (CVI)
Uma revisão sistemática e meta‑análise com 11 estudos concluiu que programas de exercício (treino de força de panturrilha e amplitude de movimento de tornozelo) melhoram significativamente a função do CMP, a força muscular e a mobilidade articular em pacientes com CVI leve e avançada, além de reduzir o volume residual venoso PMCSciELO Brasil.
Risco de Trombose Venosa
Em coorte populacional de Olmsted County, Minnesota, 1 532 pacientes foram avaliados por venous plethysmography; constatou‑se que a redução da função do CMP está associada a maior incidência de tromboembolismo venoso e maior mortalidade PMC.
Ensaios Clínicos em Indivíduos Saudáveis
Ensaios recentes demonstram que programas de contrações repetidas de panturrilha aumentam o half‑refilling time em média 4,2 s e elevam a fração de ejeção do CMP em cerca de 4,9% (p < 0,00001), comparado a grupos controles sedentários jvsvenous.org.
Adaptação em Atletas
Estudos comparativos indicam que atletas apresentam maior eficiência de bombeamento venoso e melhor capacidade de retorno venoso, fruto das adaptações dos vasos e do músculo em resposta ao treinamento de resistência Frontiers.

Melhora do retorno venoso
Fortalecer gastrocnêmio e sóleo facilita o bombeamento de sangue, reduzindo edema e sensação de pernas cansadas.
Prevenção de doenças vasculares
Um CMP eficiente diminui risco de trombose, insuficiência venosa crônica e varizes.
Otimização do desempenho cardiovascular
Ao auxiliar o retorno venoso, aumenta-se o débito cardíaco e o volume sistólico durante exercícios.
Manutenção da mobilidade e independência
Maior força e amplitude de movimento do tornozelo reduzem o risco de quedas, especialmente em idosos.

Elevação de panturrilha em pé: 3 séries de 15–20 repetições, subindo na ponta dos pés e descendo lentamente.
Caminhada consciente: enfoque na impulsão com a ponta dos pés a cada passo.
Saltos leves no mesmo lugar: melhoram a resposta dinâmica do CMP e a força explosiva.

Padberg FT, Johnston MV, Sisto SA. Structured exercise improves calf muscle pump function in chronic venous insufficiency: a randomized trial. J Vasc Surg. 2004;39(1):79–87. HMP Global Learning Network
Miller TA, et al. Possible Assessment of Calf Venous Pump Efficiency by Ventilatory Plethysmography. Front Physiol. 2020;11:1003. Frontiers
Houghton D, et al. Reduced calf muscle pump function is a risk factor for venous thromboembolism and all-cause mortality. PLoS One. 2022. PMC
Lima RCM, et al. The impact of exercise training on calf pump function, muscle strength, ankle range of motion and quality of life in patients with chronic venous insufficiency. J Vasc Br. 2020. PMCSciELO Brasil
Santos RP, et al. Effects of inspiratory muscle training versus calf muscle training on venous return metrics. J Vasc Surg Venous Lymphat Disord. 2022.